terça-feira, 30 de junho de 2009

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta







Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta, em que as coisas têm toda a realidade que podem ter, pergunto a mim próprio devagar porque sequer atribuo eu beleza às coisas. Uma flor acaso tem beleza? Tem beleza acaso um fruto? Não: têm cor e forma e existência apenas. A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão. Não significa nada. Então porque digo eu das coisas: são belas? Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver, invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens, perante as coisas, perante as coisas que simplesmente existem. Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!




Alberto Caeiro



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